terça-feira, março 31, 2009


Conheceram-se por acaso.
Festa de aniversário, amigos comuns, alcoól, o normal..
Não fosse o caso de se terem detestado.
Ela. O excesso de bebida sempre teve nele um efeito perverso, que o torna num dos seres mais chatos do mundo.
Os avanços dele apenas tiveram o efeito que ela não o desejasse reencontrar nas próximas encarnações, e isso ficou bem claro nos olhares fulminantes que lhe lançou ao longo da noite..
Mas ele não percebeu, claro..
Só ficou claro quando no dia seguinte lhe contaram que talvez tivesse sido um pouco inconveniente e..chato!
Decidiu-se a marcar um almoço, para se redimir..
Correu bem.
Sentido de humor apurado, actualizado, inteligente, preocupado com o que se passa no mundo, além do futebol, ingredientes fundamentais a uma boa conversa, descontraída.
Saíu-lhe um convite para jantar que foi aceite, para surpresa dele.
Ela estava imune a avanços. Um coração desfeito permitia-lhe sair com qualquer homem sem que se instalasse nenhum clima de tensão.
Ele não sabia.
Conversaram horas, riram.
De tudo. De política ao último grito em depilação, de música, de amores perdidos, da condição homem e mulher..
Sabes, parecemos amigos. Há anos..Nunca me tinha contecido..
Ele confessou-se rendido e abandonou toda e qualquer intenção de conquista.
Dividiram a conta.
Saíram de copo na mão e sorriso aberto.

Nem se lembram há quanto tempo se conhecem. É pouco,sim, mas não importa.
No primeiro aniversário que celebraram juntos, em que ela juntava mais um número aos seus glamorosos trinta, ele escreveu o número exacto de dias que tinha aquela amizade. Sem mais nem menos.
E os dias vão-se somando.
Brindam sempre aos cruzamentos felizes.






domingo, março 29, 2009

Sola


Sola (Inedit) (Encore) - Gotan Project


Que música..

Dreams








«Mamã, quando for grande tenho que ser só uma coisa?

Como assim?

Só um trabalho..? Porque eu queria ser mais coisas..
Queria ser pintora, actriz e escritora..Mas também gostava de ser médica dos animais, cantora, e aquilo que tu fazes.»




A génese da polivalência, mas no bom sentido, na cabeça de uma criança de seis anos.

Deixa-me a pensar em tudo o que sonhei querer ser e que já me esqueci.

Mas em retrospectiva acabei por fazer o que sempre quis mais intensamente. Tenho prazer no que faço e continuo a achar que vale a pena, no balanço geral.

É verdade que me passou ao lado uma carreira (certamente fantástica) no mundo da Medicina, mas o horror aos jorros de sangue assim o ditaram.

E, paralelamente, acabo por fazer um pouco de tudo o que sempre gostei, mesmo que não viva disso.

Escrevo, muito e sempre. No trabalho e fora dele.

Risco os meus desenhos.

E represento muitas vezes ao dia, uma vezes por diversão, outras por necessidade de máscaras.

E canto, sempre. Por necessidade, que acaba por ser mais forte do que a vergonha..

Temos gostos parecidos. Mesmo que fisicamente quase nada tenhamos em comum, vejo-me muitas vezes nos pensamentos da minha filha, nas expressões, e nalgum mau feitio, é verdade, que às vezes se confunde com persistência..

E aprendo com ela, nestas perguntas que nos relembram que tudo ja foi possível um dia, e que bem vistas as coisas não há razão nenhuma para que não possa voltar a ser.

Tu, minha querida, podes ser sempre tudo o que quiseres! Haja vontade, talento e prazer..

sábado, março 28, 2009

It is written




Finalmente vi. Hoje.

Não poderia ter sido em melhor dia..

Escrevi ontem que, ultimamente, são muitas as coisas que me desiludem, sejam filmes, pessoas, acções, momentos..

E responderam-me, sabiamente (obrigada Francisco), que ser exigente é óptimo. E de facto é.

Permite-nos apreciar momentos como este.

Não sou crítica de cinema, nem tenho pretensões a tal..Os filmes ou me tocam ou não.

Este abanou-me.

Não me interessa, sinceramente, se existem falhas, técnicas ou factuais, já apontadas por muitos.

O argumento é fantástico, a fotografia, na minha modesta opinião, excelente, e a banda sonora..arrebatadora. E embora já a conhecesse ganhou toda uma nova dimensão quando combinada com a imagem.

It is written.

Não sei se está.. mas sei que a vontade, o amor, a persistência, pode e move montanhas. E é tão bom que um filme nos lembre disso.

Que nos emocione. Que nos transporte a outro mundo que podia bem ser o nosso, devidamente adaptado..

Não sei se está nas nossas mãos, se já está decidido por Alguém.. mas é possível, sim, se for verdadeiro.

E agora vou fechar os olhos e voltar a ouvir..:))

terça-feira, março 24, 2009

over you..

Eu quero..


Eu quero deixar de te querer.

De te ver a cada instante, mesmo de olhos fechados..

De pensar no que estarás a dizer, se estás a rir, se estás feliz.

De ter vontade de te apertar, pela cintura.

De pensar se me pensas, se estou aí.

E sempre que consigo, só um pouco, apareces de novo. Um telefonema, uma mensagem, uma piada das nossas..uma presença que não se apaga.

Não me deixas ir e não entendo o porquê.

Se me queres apenas assim, em modo de espera, ou se me queres de verdade.

Como antes. Lembras-te?

Sinto-me louca. Não sei como será a loucura.. mas não deve andar longe disto. Não pode.

E fraca. Não tenho força nem para te puxar, muito menos para te empurrar.

Para te dizer tudo o que devia ser dito mas que fica preso cada vez que me lembro do teu cheiro, único e indescritível, do teu sabor, do encaixe das nossas bocas, sem esforço..

Das nossas gargalhadas, dos nossos sonhos, das palavras ao som da lareira.

Quero voltar a ver sentido na minha vida, no que me rodeia, no que faço.

Eu quero mas não consigo, é essa a verdade.

Por mais frases feitas que diga, sorrisos que me mascarem.

Não consigo, por enquanto.