Conheceram-se por acaso.
Festa de aniversário, amigos comuns, alcoól, o normal..
Não fosse o caso de se terem detestado.
Ela. O excesso de bebida sempre teve nele um efeito perverso, que o torna num dos seres mais chatos do mundo.
Os avanços dele apenas tiveram o efeito que ela não o desejasse reencontrar nas próximas encarnações, e isso ficou bem claro nos olhares fulminantes que lhe lançou ao longo da noite..
Mas ele não percebeu, claro..
Só ficou claro quando no dia seguinte lhe contaram que talvez tivesse sido um pouco inconveniente e..chato!
Decidiu-se a marcar um almoço, para se redimir..
Correu bem.
Sentido de humor apurado, actualizado, inteligente, preocupado com o que se passa no mundo, além do futebol, ingredientes fundamentais a uma boa conversa, descontraída.
Saíu-lhe um convite para jantar que foi aceite, para surpresa dele.
Ela estava imune a avanços. Um coração desfeito permitia-lhe sair com qualquer homem sem que se instalasse nenhum clima de tensão.
Ele não sabia.
Conversaram horas, riram.
De tudo. De política ao último grito em depilação, de música, de amores perdidos, da condição homem e mulher..
Sabes, parecemos amigos. Há anos..Nunca me tinha contecido..
Ele confessou-se rendido e abandonou toda e qualquer intenção de conquista.
Dividiram a conta.
Saíram de copo na mão e sorriso aberto.
Nem se lembram há quanto tempo se conhecem. É pouco,sim, mas não importa.
No primeiro aniversário que celebraram juntos, em que ela juntava mais um número aos seus glamorosos trinta, ele escreveu o número exacto de dias que tinha aquela amizade. Sem mais nem menos.
E os dias vão-se somando.
Brindam sempre aos cruzamentos felizes.