Fechou-se em casa. Só.
Longe de todos aqueles que já não o acompanham.
Está velho. Gasto, sem vigor.
Já ninguém ouve o que diz, nem se preocupa com o que faz.
Recorda-se.
Já ninguém se importa, é evitado, como um outro qualquer problema sem solução.
Apenas o conforto do sofá lhe traz algum consolo, alguma paz, recordações...
Lembrou-se que, em tantos anos, nunca ali tinha estado sentado sozinho.
Sem televisão, sem ninguém.
Foram muitos anos.
A chuva que escorria pelas janelas fê-lo virar-se.
Também ele queria chorar, mas sem sucesso. Já não conseguia.
Só o alivio da despedida o fazia continuar.
Mas naquele dia, com chuva, acordou em paz. E sabia.
Voltou ao seu encosto e cobriu-se.
Fechou os olhos.
Morreu só.
E com a esperança de voltar a encontrá-la, do outro lado, de mão estendida.
De encontrar os braços que já eram seus.
Consta, na certidão de óbito.
Amor, com complicações derivadas de saudade crónica.
3 comentários:
'Tão triste.
'Tão lindo.
beijinhos e boa quarta-feira
O fim de muitos de nós. Trágico, mas talvez a morte mais bela e serena.
Beijo
Tristemente bonito. E gostava de pensar que sim, que a encontrou, do outro lado, à espera.
Bj
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